1 de out. de 2009

Sem opção.

Por Hesíodo Góes


Estamos sem opção. Universitários desempregados, estudantes desiludidos. É claro que existem os mais sortudos, os escolhidos “divinamente” pelo mercado. Esses fazem parte do seletivo grupo de pessoas que gostam do que fazem e são felizes por isso, pelo menos profissionalmente. Não tenho nenhuma tese ou pesquisa para me basear e sim a convivência com a realidade alheia e própria, assim sendo, é possível afirmar que grande maioria das pessoas não são realizadas profissionalmente, apenas estão lá pelo dinheiro, status, ou por falta de opção mesmo, atrelada à responsabilidade familiar.

A parte sofrível de universitários que lutam por uma simples vaga de estágio tem que se adequar às “gambiarras” oferecidas pelo mercado em relação ao seu curso. A exemplo disso fui chamado para trabalhar (estagiar) em uma empresa de cobrança via telemarketing. O discurso do dono/ entrevistador da empresa me persuadiu quando foi afirmado que como faço jornalismo “o telemarketing seria um ótimo exercício, via oral, para me comunicar com as pessoas com maior facilidade” e que “para minha vida profissional seria uma experiência única.” Mesmo não tendo nada a ver comigo, fiquei. Fiquei porque estava precisando da merreca que eles pagariam. Fiquei, mas não durei um mês e não incentivo as pessoas a fazerem esse tipo de trabalho, é loucura!
Outra vez estava trabalhando em um almoxarifado e estavam precisando de estagiários. Perguntei em que área ele trabalharia. Ele trabalhou ao meu lado carregando peso e nem carteira assinada o universitário do curso de administração tinha. A empresa queria estagiários com funções de estivadores, pedreiros, marceneiros, auxiliar de limpeza. Claro, sem desmerecer essas profissões que não necessitam de estagiários universitários.

A moda de uns tempos pra cá é fazer concurso público. Essa moda é tão forte que: ou o individuo está empregado, é desempregado, universitário, ou “concurseiro”. Isso significa que mais uma classe de desesperados foi criada. Uma coisa é concorrer a uma vaga em que se identifica, que escolheu para a vida mesmo depois se decepcionando. Conheço pessoas que querem fazer o curso de direito para futuramente fazer concurso público como se fosse uma pós-graduação remunerada. Errados? Não, certíssimos. Tem mais a ver com eles.

Em uma mesa de bar, certo dia, a pauta da vez era: Concurso público e qual felicidade real ele pode te oferecer? Parece título de reportagem ou de capa de revista, mas foi uma discussão polêmica e repleta de dúvidas. Uma amiga (concurseira) dizia que “o mundo andava cheio de poucas opções” e a outra indagava que “não tem dinheiro no mundo que pague o amor pelo trabalho.” Eu, pra ser sincero, concordo com as duas. De um lado, “o mundo” está mesmo com poucas opções. As pessoas aprendem a gostar do que fazem e se acostumam, mas não porque querem e sim por necessidade, mas para isso também necessitam de forte dedicação. Em contra partida, elas adquirem estabilidade financeira para o resto da vida. Por outro lado, a questão do “amor pelo que faz” é mais um estímulo para o dia a dia numa vida profissional. Nos primeiros meses, tudo são mil maravilhas, o salário é bom, os sonhos batem na porta com mais frequência. E depois de alguns dez anos? Só com muito amor e dedicação pelo trabalho que se consegue deixar mais estreitos os laços profissionais e pessoais, mas claro sabendo dividir os momentos exatamente como óleo e água.

O bom é não desistir nunca. Trabalhe de graça se for necessário, troque suas mãos trabalhadoras pelo aprendizado, olhe para frente, não desmereça nenhum tipo de trabalho, pois toda experiência é válida. Após a necessidade sempre vem a felicidade assim como após a madrugada vem o amanhecer. Não olhe pra nenhum emprego como um simples “empreguinho de merda que não vai me dar futuro”. O futuro está em nossas mãos, mas ele foge como água.

Um comentário:

Kari disse...

Parece que tu escreveu pra mim.
E sabe que eu troquei sim, um emprego com salário garantido e, pelo menos, quinhentos reais no bolso todo mês, pela experiência. Pela ânsia de aprender, de fazer aquilo que estou estudando, que quero e que tanto amo. POis percebi que, não é o dinheiro que vai me ajudar a subir, mas a experiência. É com ela que vou ganhar um pouco mais amanhã.

Beijão pra tu