24 de set. de 2009

Memórias


Estava eu procurando anotações de meu avô e com muito trabalho obtive êxito. Mas, desde então, pude observar com mais calma e cautela as coisas que ele escrevia e percebi o quanto de sentimento seu Góes era recheado, só não consegui contar todos, pois perdi as contas. Ele era poeta, escritor, contador de causos. Ele era o amor maior de nossa família e não há espaço suficiente, nos caracteres dessa página, para descrevê-lo.

Fez homenagens através da escrita a todos da família e amigos. Documentou fatos de sua vida e tornou imortal às memórias. Ele era Hesíodo Freire de Campos Góes. A partir de hoje, toda semana, postarei seus pensamentos, poesias e causos de uma pessoa que se estivesse entre nós, no sentido material da coisa, com certeza teria um blog para expor seus pensamentos. Mediante a isso, faço minha homenagem.

Pensamentos.

“Mesmo que a vida termine no túmulo, que nada exista depois da morte, que tudo seja escuro e vazio, é de toda maneira um fim.
A esperança de uma nova vida, mesmo que não seja real é válida para nos dar a coragem de encontrar, em novos conglomerados espirituais, aqueles entes queridos que se foram.
Pode tudo terminar ali, como pode também começar ali uma nova vida. Quantas coisas temos vontade de dizer na hora da morte! Quantas lembranças nos passam pelo cérebro de todos os acontecimentos da vida!
Fazemos estas suposições por entendermos que o tempo final, que o espaço entre o ultimo suspiro e a morte, seja um período de reflexão de todos nós.
Na hora da morte do meu pai acompanhei minuto a minuto, numa ocasião onde me senti a mais inútil das criaturas por não poder fazer nada, vi o esforço que ele fazia para falar. O que desejava dizer? Nunca saberemos. Ficou o vazio do seu quarto, os seus livros, a sua estante e a sala, lembrança que se tornará matéria a medida que o tempo for passando.
O tempo é o grande escultor que faz as lembranças se tornarem matéria em nossas mentes. E ai de nós se não fosse o tempo!
O dia a dia que nos faz suportar a ausência dos que se foram e tornar todos os sofrimentos passageiros.”

Texto extraido das "Divagações" de Hesíodo F. Campos Góes.
Imagem Hesíodo Góes.

17 de set. de 2009

E por falar em Capibaribe...


Certo dia recebi um recado em meu flickr de uma jornalista chamada Eva Duarte, com um pedido para ceder umas de minhas imagens para postagem no Capiblog. A composição escolhida foi feita no Centro Cultural dos Correios dentro da sala de exposições de macrogravuras de Terciano Torres (recomendo todos visitarem, muito interessante) e é claro que eu cedi. Agradeço desde já a divulgação e o empenho do grupo pelo projeto "Eu quero nadar no Capibaribe. E você?"

Valeu Eva!!!



Por Hesíodo Góes

Capibaribe!!


O Rio Capibaribe precisa ser salvo! Enquanto essas palavras soam aos nossos ouvidos quase que diariamente mediados pelos telejornais e conversas alheias, o rio ainda continua sem ser salvo. Então vamos falar menos e fazer mais. ”Eu quero nadar no Capibaribe. E você?” é um projeto que tem como principal foco a despoluição do nosso rio, cartão postal do nosso estado, e debater a prática de ações que contribuam para melhoria da qualidade de vida e a preservação do meio ambiente.

Segue informações do projeto:

Semanalmente, o programa apresenta um “Eco-cidadão”, que compartilha suas “práticas ecológicas”, mostrando como seu estilo de vida contribui com a melhoria da cidade, da qualidade de vida e das águas do Capibaribe.
As “Cápsulas Verdes” mostram práticas ecológicas acessíveis a cada cidadão comum. Os temas abordados têm como pano de fundo os desafios de uma cidade sustentável, que busca encontrar alternativas para problemas como o gerenciamento da água, o saneamento básico, o lixo, a energia, o transporte e etc.
O projeto foi aprovado pelo I Concurso do Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco da FUNDARPE e conta com o apoio da ONG Suíça Evolutio International. Em sua primeira temporada estão sendo produzidas 12 Cápsulas Verdes.
Os programas inéditos passam sempre aos domingos, no intervalo do Repórter Eco (entre 16h30 e 17h) com reprise durante a semana em diversos horários da programação da TV Universitária, canal 11 – Recife.



Para maiores infomações entre no site: http://capibaribe.info/

Fonte: Capiblog
Foto: Hesíodo Góes

16 de set. de 2009

A CASA DA MEMÓRIA POPULAR E AS EDIÇÕES BAGAÇO CONVIDAM PARA O LANÇAMENTO DO LIVRO COZINHA DE POBRE POR LIÊDO MARANHÃO




Próxima quarta-feira, dia 16 de setembro, das 19h ás 21h, com exibições de vídeos- documentários da Casa da Memória Popular no Bar Central (próximo ao Parque Treze de Maio) Tel. 3221 – 1398 – Entrada franca. A preocupação deste pequeno trabalho é mostrar uma outra realidade fora dos tradicionais livros de culinária, “feito para prestar reais serviços ás senhoritas e donas de casa” na direção da cozinha..Excluída das mesas abastadas, dos restaurantes, dos salões de chá, das confeitarias e dos cafés, a cozinha de pobre, sem preparações longas e custosas, sem folclore, sem estudo elitista, é, muitas vezes, inventada na hora para matar a fome. Liêdo Maranhão, com 12 livros publicados, não precisa de apresentação, ele é que é qualificado para o fazer, quando se fizer necessário. Esse trabalho (Cozinha de Pobre) demonstra a preocupação constante pelo nosso povo, que está sempre presente em qualquer produção do autor. Povo esse em que ele tem grandes amigos e colaboradores e do qual coleta sempre material para seus trabalhos. Apesar de recifense do bairro de São José, Liêdo tem suas raízes no interior e, nesse trabalho, trouxe as raízes alimentícias de todo o Nordeste. Mostra a inteligência de nossa gente que , para sobreviver, consegue criar receitas apreciadas por paladares mais sofisticados, mas a maioria mesmo, foram criações motivadas pela necessidade. De princípio, a imaginação tinha que ser usada para criar novas receitas pela falta de gêneros motivada pela deficiência de estradas. De algum tempo pra cá, quando o poder aquisitivo foi se achatando cada vez mais, os hábitos alimentares foram se modificando por dificuldade financeiras. A criação da COZINHA DE POBRE, como Liêdo denomina, foi motivada pela falta de meios de adquirir gêneros. Essa necessidade foi se estendendo também à classe média sufocada e empobrecida.
Apesar dos seus 84 anos, Liêdo Maranhão continua pesquisando e escrevendo sobre a cultura popular nordestina. Atualmente organiza com o filho e sua nora, O ESPAÇO CULTURAL CASA DA MEMÓRIA POPULAR que reúne um acervo de 22.000 itens que retrata a historia do povo nordestino.
Texto: Roman Ruiz Maranhão
Foto: Hesíodo Góes

15 de set. de 2009

Ostra(cismo)


Acordei cedo, era sábado e como combinado fui à praia com minha mãe e Elisa. Fomos à Maria Farinha depois de anos sem nunca mais ter ido. A orla estava irreconhecível, a natureza fez seu papel de incontrolável continuidade expulsando intrusos. Sol fritante, pedi logo uma cerveja que no primeiro gole me fez pensar como existem coisas na vida que se tornam um mal necessário, mas isso foi questão de segundos assim como foi também a chegada de um garoto moreno, queimado do sol, descalço com um balde de alumínio na cabeça gritando “olha a ostra, olha a ostra”. Adoro ostra! E com cerveja é uma maravilha. È como a necessidade da presença da farinha em um prato de feijão. Entende?

Dei um grito que ele veio correndo e num galope só foi dizendo logo seu preço (sete é um real) e mostrando seu sorriso, sorriso branco-feliz, fechou contrato em nove a um real. Mas enquanto ele nos servia, eu fotografava e a curiosidade me batia, me incomodava pelo tipo de trabalho que fazia e pela aparência de criança que tinha. Perguntei logo sua idade e fiquei sabendo que eram apenas 14 anos e trabalhava a cinco no ramo do molusco assim como seu pai e sua mãe. Eu pensei: meu Deus, ele trabalha desde os nove anos. Será que ele sabe o que é Bob Esponja, bola de gude, vídeo game, entre outras coisas que fizeram parte da infância de qualquer criança normal perante a minha realidade? E como ele consegue trabalhar dessa forma tão alegre e feliz, conversando e atendendo bem a clientela? Pelo que eu me lembro, comecei a trabalhar quando eu tinha o dobro da idade que ele começou, afinal de contas nesse Brasil “grandioso” só se é permitido trabalhar a partir dessa idade, pelo menos na época que comecei. Perguntei se ele estudava, ele disse que sim, mas foi um sim constrangedor e o sorriso ficou amarelo. Fingi que acreditei e mudei logo de assunto, mas ele continuou e disse com todo entusiasmo que tinha Orkut e que queria colocar as fotos que eu fazia lá. Perguntei seu nome e descobri que era Josuel, só Josuel. Não quis me dizer o sobrenome, apenas me disse que era “assim solitário e pronto!” Mas ele era feliz por isso, mas eu não fiquei feliz com isso. Pensei: Josuel e pronto... pronto pra que? Para qual vida? Para onde? Por que só Josuel? Mas, o mais importante é que ele nos passou uma imagem de que era feliz com seu trabalho e vida, na ilusão de que esse mundo já é o suficiente para ele. Já basta. Sem precisar de mais nada para sua melhora.

Sentindo-me mais intimo do autônomo vendedor perguntei:

- Josuel, você é feliz?
Esperando alguma resposta ignorante e constrangedora, ele me respondeu com outra pergunta e sorrindo branco:
- Por quê? Você não é?

Juro que fiquei sem resposta, sem ação. Ele não me respondeu com essas duas perguntas, mas sim com seu sorriso branco-feliz, e ele sabe que é feliz. Já eu, sou feliz e num sei, ou não sabia.
Por Hesíodo Góes
Foto: Hesíodo Góes

13 de set. de 2009

Lembranças.


Lembro-me de quando eu era criança. Minha memória só começou a arquivar as coisas quando eu tinha uns, sei lá, três anos. Tudo era imenso ao meu redor. Ficar na “cacunda” de meu pai era o maior barato, me sentia o super-homem e eu adorava. Lembro-me também de toda minha infância na casa de vovô. Nossa! Era bom demais ter toda aquela criançada na rua dele me chamando para brincar. Assim que eu chegava, não dava nem tempo de tirar as coisas de dentro do carro, era uma euforia só. Jogava bola, empinava pipa (não fui muito feliz nesse dia, pois meu avô quebrou a pipa toda), jogava bola de gude... Sujava-me o dia todinho pra que quando a noite caísse tomaria aquele banho e corria para a “rua conversar com os meninos” feito gente grande. Era bom também quando íamos à praia. Era todo final de semana e emendava pela noite em um restaurante com todos os amigos e compadres de meus pais, meu apelido era “camarão”. Lembro-me bem de um dia estar com meu primo Joãozinho na praia e de repente nos perdemos de todos os nossos responsáveis e ele perguntou ingenuamente: “Hesíodo! Cadê nossos pais?” Até hoje nós rimos disso.

Ah! tempos bons... que não imaginava as responsabilidades de ninguém e muito menos as minhas. O tempo se passou, a vida deu outro rumo para a história de cada um e todo aquele encanto que tinha das pessoas passaram a cair como uma maquiagem no rosto de alguém que chora. Meus pais se separaram, meu vô morreu, , minha mãe virou “pãe”. Hoje sou filho de pai ausente e de mãe presente em todas as circunstâncias de minha vida. Tenho um bonito irmão (verdade que muito imaturo ainda, mas um dia vai ficar pronto). Amigos? Digo que tenho muitos, mas os de verdade são poucos assim como todo mundo. Dá até pra contar nos dedos! De ídolo tenho apenas um e graças a Deus é de minha família, mas se encontra no andar de cima. Carrego com muita honra o seu nome e sobrenome pro resto da vida, esse foi meu maior presente assim que nasci, apesar de todas às vezes soletrá-lo quando alguém me pergunta como se escrever. Como ser humano e respeitando a contradição dessa raça, não tenho o direito de afirmar e apontar os que erraram e os que acertaram. Mas nossas vidas são como um efeito dominó: o que vivemos hoje é pura conseqüência do que foi feito ou do que não foi feito. Talvez se não fossem alguns erros e acertos do passado, eu não seria a pessoa que sou hoje e nem teria a oportunidade de ter conhecido pessoas maravilhosas e também desnecessárias na minha vida.

Bom mesmo era quando “mainha” me levava para a escola.

Por Hesíodo Góes
Fotos: Hesíodo Góes

3 de set. de 2009

Pra que nós nascemos?




Por Hesíodo Góes
Foto: Hesiodo Góes



Sabe aqueles dias que você não está disposto a nada, sem saco pra nada? Pois bem, é assim que me sinto no momento (faz algum tempo pra falar a verdade). Quando estou nesses dias sinto-me mais propício a escrever tudo que vem em minha mente. Tava pensando, para que nós nascemos? Pra qual finalidade exatamente nós viemos ao mundo? Para sermos doutrinados à igualdade,uns aos outros? Pra sermos o mais do mesmo? É. Temos que seguir a linha..

Sociedades hipócritas sendo construídas a cada instante neste mundo, a cada choro de maternidade, a cada corrida “espermatozóica” por um lugar aconchegante em cada ventre maternal. Somos apenas operários e doutrinados por censuras prévias de nosso pensamento manipulado por “opiniões públicas”. Quem criou essa doutrina? Quem ao menos tem a coragem de afirmar o que é certo ou errado na vida de uma pessoa normal, que queira seguir um sonho já sonhado por alguém?

Pois bem, o mundo não é repleto de bons vanguardistas (esses já existiram e tenho esperança de aparecer mais algum). Ele é repleto de bons copiadores, ou melhor, transformadores. Nascemos para termos uma referência de vida, um argumento do porque de sermos assim, desse jeito. Nascemos para sermos iguais, uns aos outros, mesmo que a doutrina religiosa ou jurídica não chegue a nossos ouvidos ou pelo menos em nossos corações. O legal está na diferença. Não sou o primeiro, com certeza, a expressar esse tipo de coisa. Mas vejam bem: o que seria do bonito se não fosse o feio? O que seria do magro se não houvesse o gordo? Do branco, por exemplo, se não existisse o negro? Do rico, quem falaria do rico se não houvesse o pobre da base de sustentação da pirâmide social? A vida é baseada no diferente, no belo que é o contraste da imagem humana que nós somos, dentre outras coisas.