22 de nov. de 2009

"Espetáculo" nos semáforos da cidade.


Por Hesíodo Góes
Foto: Hesíodo Góes

Há algum tempo o espetáculo de como ganhar o pão vem tomando as ruas do Recife. Mas, tenho plena certeza que o Brasil já está tomado por esses “eventos” humilhantes. Digo humilhante usando todas as emoções que essa palavra pode proporcionar, pois já vi crianças que ainda não vislumbravam os sete anos de idade, um pouco menos de rua talvez, fazendo marabalismo com gosto de querosene em meio à fumaça automotiva. O “show” segue um roteiro e organização invejáveis a qualquer diretor teatral. Faltando pouco menos de um minuto para abrir o semáforo, eles param a “apresentação”, agradecem ao “público” e seguem com as mãozinhas novinhas, porém calejadas, a pedir trocados ou o que tiver em alcance de seus olhos e que encha sua barriga:

-Tio, me dá um trocado?
-Não tenho
- E aquele biscoito ali aberto?
-É seu

Quando as cortinas se fecham (semáforo mostra o verde), procuro ao meu redor e vejo uma pessoa responsável por eles. Uma mulher grávida, aparentemente com os seus 25 anos, mas com cara de bodas de ouro. Num braço uma criança recém nascida, no outro a mão aberta para receber o seu “justo” salário de “empresária” aliciadora.

Esse cotidiano, quando fotografado, gera uma imagem fascinante e premiada de elogios. Mas nem todos imaginam o que sentem os fotógrafos nos milésimos de segundos indispensáveis para a documentação do fato. É deprimente.

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